Aprendemos na vida que o símbolo nunca pode ser maior do que aquilo que está sendo simbolizado. A medalha não pode estar acima do atleta, nem o diploma acima do graduado. Assim também deveria ser com datas comemorativas. Elas não podem ser um fim em si mesmas, mas a lembrança viva de algo melhor.
Esse princípio ganha ainda mais importância quando falamos de celebrações religiosas. No calendário cristão, poucas figuras têm um destaque tão singular quanto São João Batista. Celebrado em 24 de junho, o Dia de São João Batista é mais do que uma festa cultural ou um marco no meio do ano; trata-se da lembrança viva daquele que veio para preparar o caminho para Cristo, aquele que é chamado “o Precursor”.
Mas quem foi João Batista e por que ele é tão importante?
João Batista: Aquele que Preparou o Caminho
A história de João Batista está entrelaçada com a missão de Jesus Cristo desde antes do nascimento de ambos. Filho de Zacarias e Isabel, parentes de Maria, João já foi um milagre desde o ventre, pois Isabel era estéril e de idade avançada. Seu nascimento foi anunciado pelo anjo Gabriel, o mesmo que anunciaria depois o nascimento de Jesus. Não por acaso, João nasce seis meses antes do Messias.
Sua missão era clara: preparar o povo para receber o Cristo. João viveu no deserto, vestia-se de peles de camelo e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Não buscou o conforto da cidade, nem o reconhecimento social. Sua mensagem era dura, mas verdadeira: “Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus”.
Esse anúncio cortava o orgulho dos fariseus e desconcertava os poderosos. João falava o que precisava ser dito, não o que as pessoas queriam ouvir. Ele sabia o seu lugar. Jamais tentou ocupar o posto que não lhe cabia. Quando questionado se era o Cristo, respondeu sem hesitar: “Não sou o Cristo. Eu sou a voz que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor”.
Em um mundo onde muitos buscam protagonismo e fama, João foi o modelo da humildade. Não desejava ser o centro das atenções. Seu único desejo era que Cristo fosse reconhecido. E por isso afirmou, com grandeza e simplicidade: “É necessário que Ele cresça, e que eu diminua”.
A Festa e o Espírito
Hoje, muitos conhecem o Dia de São João pelas festas juninas, pelas fogueiras, quadrilhas, danças, comidas típicas e muita alegria. Essas manifestações populares têm seu valor cultural, especialmente em várias regiões do Brasil, onde a festa de São João é um verdadeiro patrimônio imaterial.
No entanto, se a festa se torna apenas um evento social, sem ligação com o seu verdadeiro significado, o símbolo começa a se sobrepor à realidade simbolizada. A fogueira, por exemplo, lembra aquela que Isabel teria acendido para avisar Maria do nascimento de João. A dança ao redor dela, a comunhão entre amigos e vizinhos, deveria ser também um convite a preparar o próprio coração para o encontro com Cristo, assim como João preparou o caminho para Ele.
Quando esquecemos o simbolizado e ficamos apenas com o símbolo, corremos o risco de transformar o que é sagrado em mera distração passageira. Por isso, a festa deve ser, antes de tudo, um lembrete vivo da missão de João: preparar, apontar, conduzir.
A Importância do Precursor nos Dias de Hoje
João Batista foi o precursor não só para o povo de Israel naquele tempo, mas também um exemplo para todos nós hoje. O mundo moderno tem pressa, vive correndo, busca novidades, entretenimentos, e muitas vezes esquece de preparar o próprio interior para as coisas que realmente importam.
Quantos hoje vivem como se a vida fosse apenas uma corrida de conquistas materiais ou uma busca desenfreada por prazer imediato? João nos ensina o contrário. Ele ensina que primeiro é preciso arrumar a casa interior, colocar as coisas em ordem, buscar a conversão verdadeira, e só então estar pronto para o que Deus quer realizar em nossas vidas.
Além disso, João nos mostra o valor de ser ponte e não muro. Ele preparou o caminho para Outro. Não prendeu as pessoas em torno de si, mas as conduziu para Cristo. Em tempos de culto à personalidade e de egos inflados, precisamos reaprender a ser ponte, a ajudar os outros a encontrar um caminho que não é o nosso, mas que é o caminho da Verdade.
João e o Testemunho até o Fim
A fidelidade de João à sua missão foi até as últimas consequências. Sua coragem ao denunciar o adultério de Herodes custou-lhe a vida. Poderia ter se calado, poderia ter escolhido uma vida mais cômoda, mas não seria fiel à verdade. João Batista morreu decapitado, mas sua voz continua viva em cada um que escolhe preparar o coração para Deus e viver com retidão.
Isso também é um chamado para nós. Não basta celebrar com bandeirinhas e danças; é preciso ser testemunha da verdade, mesmo que isso custe rejeição ou incompreensão. O verdadeiro discípulo é aquele que, como João, não se coloca acima da missão, mas a serviço dela.
Conclusão
Celebrar o Dia de São João Batista é celebrar aquele que apontou o caminho para algo maior. É lembrar que o símbolo — a festa, a fogueira, a música — não pode ser maior do que a realidade à qual aponta. João Batista nos convida, ainda hoje, a uma vida de autenticidade, simplicidade e coragem.
Que a cada 24 de junho, ao vermos uma fogueira acesa ou ouvirmos o som de uma quadrilha animada, possamos recordar a verdadeira chama que deve estar acesa: a chama da preparação interior, da conversão, da humildade e da verdade. Porque assim como João Batista preparou o caminho para Cristo, também nós somos chamados a preparar o nosso caminho e o dos outros para encontrar Aquele que é o verdadeiro motivo de toda festa.
"O santo é o único celebrado em duas datas - dia 29 de agosto."